Você com certeza conhece a expressão “uma imagem vale mais que mil palavras”. E ela não é dita à toa: pesquisas recentes apontam que 90% das informações transmitidas ao cérebro são visuais. Além disso, as imagens são processadas 60 mil vezes mais rápido no cérebro do que os textos. Logo, 40% das pessoas respondem melhor à informação visual do que a um texto simples.
Analogamente, não é de hoje que se tem conhecimento do poder dos elementos visuais. Um estudo realizado em 1970 e publicado na revista Psychonomic Science já mostrava que as pessoas costumam lembrar com maior facilidade de imagens que de texto. Em 1986, outro estudo demonstrou que imagens são 43% mais persuasivas que texto.
No mundo jurídico, o reconhecimento da importância de elementos visuais é mais recente, talvez em razão da ausência da tecnologia disponível até então ou mesmo do processo gradual da desburocratização do setor.
Com isso, surge então, o conceito de Visual Law. Trata-se de uma subárea do Legal Design Thinking que emprega elementos visuais para tornar o Direito mais claro e compreensível. O que se busca, em síntese, é transformar a informação jurídica em algo que qualquer pessoa consiga entender. Nesse caso, com elementos visuais e abordagem textual mais simples e direta.
A seguir, conheça mais sobre essa área em ascensão no mercado jurídico. Além disso, veja alguns exemplos de como aplicá-la no dia a dia do setor jurídico.
Em um país com quase 80 milhões de processos judiciais em tramitação por ano, insistir em petições com dezenas de páginas, muitas delas com longos trechos de decisões judiciais, já não parece ter eficácia. Primeiro, porque acaba tomando um tempo absurdo do trabalho do advogado. Segundo, porque o grande volume processual impede que o magistrado possa analisar com calma cada petição na íntegra.
Nesse sentido, o Visual Law pode facilitar a rotina de todos os profissionais do Direito. As técnicas são as mais variadas e envolvem a utilização de vídeos, infográficos, fluxogramas, storyboards, bullet points e gamificação, entre outros recursos.
Veja alguns exemplos:
O departamento jurídico da empresa brasileira de assistência médica Amil, com auxílio de designers, protocolou uma contestação inovadora nos autos do processo nº 1007306-36.2019.8.26.0002, em tramitação na 10ª Vara Cível do Foro Regional de Santo Amaro, em São Paulo (SP). Em resumo, o documento reúne diversos elementos visuais, como ícones e imagens, e até mesmo um QR Code.
A Super Revendedores, uma plataforma brasileira de controle de vendas e estoque, recentemente disponibilizou um modelo de instrumento particular de parceria comercial com elementos visuais. Como resultado, o documento elaborado pelo escritório FCM Law é composto por ícones e imagens para facilitar a leitura.
Recentemente, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) lançou um projeto com objetivo de tornar a redação dos documentos jurídicos mais clara, simples e objetiva. Batizada de Descomplica, a iniciativa adota técnicas de Visual Law para aprimorar a comunicação dos documentos e tornar a linguagem mais direta.
“As pessoas que não conhecem e não entendem os mecanismos da Justiça. Então, ao acessarem o Judiciário ou receberem um mandado ou intimação, podem se sentir reféns de um sistema que parece difícil de entender. O desafio é manter a essência da informação, mas sem excessos e procedimentos retóricos, promovendo uma comunicação mais eficaz”.
Desembargador Ricardo Pippi Schmidt
Como resultado, alguns ofícios foram repaginados com uma redação simplificada e mais visual, para que as orientações oficiais se tornem mais claras e compreensíveis. Confira o comparativo a seguir, apresentando o antes (formato tradicional) e o depois (formato Visual Law):
Seguindo a mesma ideia, a 6ª Vara Federal da Justiça Federal do Rio Grande do Norte (JFRN), desenvolveu um modelo de mandado de citação e intimação de penhora com elementos visuais. O documento contém ícones e um QR Code para facilitar a compreensão dos destinatários.
A aplicação do Visual Law não precisa ser um bicho de sete cabeças. Usando a tecnologia, os profissionais jurídicos podem organizar, produzir e disseminar a informação visual. O software da Deep Legal, por exemplo, emite relatórios completos que podem ser transformados em infográficos, por exemplo. Dessa forma, facilita a apresentação de informações tanto para os clientes quanto para a elaboração de documentos.
Para o advogado do futuro, portanto, o desafio é organizar as ideias a partir de um pensamento visual. Assim, ele conseguirá entregar a informação em infográficos, quadros e tabelas, ajudando o leitor a assimilar os dados.